Em “O mal-estar na civilização” Freud nos oferece uma análise das tensões que permeiam a vida em sociedade. Como psicanalista, é fundamental refletir sobre como essas tensões se manifestam no cotidiano dos indivíduos e como a psicanálise pode servir como um recurso para lidar com o sofrimento psíquico.

      Freud argumenta que a civilização, ao mesmo tempo que proporciona segurança e estrutura, impõe restrições as pulsões humanas. A necessidade de regular as relações sociais e garantir a convivência satisfatória entre os sujeitos resulta em um conflito intrínseco: a repressão dos desejos naturais em prol da ordem social. Essa dinâmica gera um mal-estar que se manifesta em diversas formas, como ansiedade, depressão e crises existenciais.

      Um dos conceitos centrais na obra de Freud é o “sentimento oceânico”, que descreve uma sensação de conexão profunda com o universo. Essa experiência, muitas vezes associada à infância, pode ser vista como uma busca por um estado de plenitude e segurança. No entanto, à medida que crescemos e nos deparamos com as exigências da vida adulta, essa sensação se torna mais difícil de alcançar. A religião, segundo Freud, surge como uma tentativa de restaurar essa conexão perdida, oferecendo respostas e consolo diante das incertezas da vida. Contudo, ele também critica a religião por sua tendência a uniformizar as experiências individuais, limitando a liberdade de escolha e a adaptação do sujeito.

     Como psicanalistas, nosso papel é ajudar os pacientes a reconhecerem e lidarem com suas próprias tensões internas. A psicanálise oferece um espaço seguro para explorar os desejos reprimidos, as frustrações e as expectativas sociais que moldam a vida de cada um. Através da escuta atenta e da interpretação, podemos auxiliar os indivíduos a encontrarem suas próprias formas de satisfação e felicidade, respeitando suas singularidades.

    Além disso, Freud nos apresenta três recursos que os humanos utilizam para lidar com o mal-estar: as diversões, as gratificações substitutivas e as substâncias inebriantes. Embora esses mecanismos possam proporcionar alívio temporário, é essencial que os pacientes compreendam que a verdadeira resolução do sofrimento psíquico reside na capacidade de enfrentar e integrar suas experiências, em vez de simplesmente evitá-las.

      Em um mundo cada vez mais complexo e desafiador, a psicanálise se torna uma ferramenta indispensável para a compreensão do ser humano. Ao promover um espaço de reflexão e autoconhecimento, podemos ajudar nossos pacientes a navegar pelas intricadas relações entre seus desejos, suas frustrações e as exigências da civilização. Assim, a obra de Freud não apenas ilumina as sombras da psique humana, mas também nos convida a um diálogo contínuo sobre a busca por significado e conexão em um mundo que frequentemente parece desprovido de ambos.

      Se você se sente sobrecarregado pelo mal-estar da civilização ou busca compreender melhor suas próprias experiências emocionais, convido-o ao primeiro contato.

FABRÍCIO DA SILVA

PSI

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